24 Junho 2005
Acabei de entrar no blog da Rita. Ela comentou aqui hoje, e eu fui lá dar uma olhada. Comentando no blog dela, uma idéia me passou:
Eu queria que inventassem uma ressonância magnética que mostrasse o cérebro - o meu pelo menos - da forma que ele funciona.
Não! eu não estou falando em ciência, não quero saber de neurônios e química, e ligações fantásticas entre o bem estar e a endorfina...nem nada que interesse a um neurologista.
Eu quero poder mostrar o que eu sinto!
A Rita diz que algumas coisas ficam registradas na lembrança, outras são impossíveis de lembrar porque o tempo apaga...e que ela registra o que pensa e o que sente, enquanto o tempo permitir que ela escreva.
Nossa...é exatamente esse o jeito de guardar o tempo!
Minha paixão junta duas coisas: escrever e fotografar.
É um jeito de registrar o que eu vejo e o que eu sinto/penso.
Mas nem tudo o que vejo posso registrar. Se a super-ressonância-mega-plus-de-mercedes fosse criada, eu poderia guardar, dividir, mostrar, sem interpretações errôneas, o que vejo e o que sinto. As coisas pequenas que não interessam à ciência, mas que eu não quero esquecer.
Poderia mostrar porque gosto quando estou dirigindo na Marginal Pinheiros no fim da tarde em direção à minha casa e o céu está vermelho, verde, azul, e o sol é uma bola enorme que ocupa 3 pistas da Castelo e me tira o fôlego. E como é olhar para as núvens com meus óculos escuros quando o som do carro está alto tocando Shiver do Coldplay.
Ficaria registrado o olhar:
O olhar do Pedro que é distante e profundo. O Olhar do Du Lobo quando me dá oi. O olhar da Natasha quando morre de rir com as coisas que eu digo. O olhar do gato preto que ronda a minha casa me pedindo pra entrar. O olhar do Diogo quando vem me abraçar. O olhar do menino bonito pra câmera na internet. O olhar do Claudio quando me acordou pra contar que entrou no short list em Cannes. O olhar da menina que vende bala no sinal quando eu brinco com ela. O olhar da caixa da padaria quando me vê, porque eu digo que ela está mais bonita. O olhar daquela pessoa que ficou pra trás e que sabia me olhar como nunca mais ninguém me olhou. Os olhos molhados de até nunca mais....Ficaria guardado o que eu sinto quando alguém que eu gosto me olha nos olhos e sorri.
A sensação de uma coca light gelada. O gosto do meu suor depois da corrida. O prazer da água. O prazer de me ouvir quando eu canto no banheiro. Eu poderia explicar o cheiro de Los Angeles. O gosto que eu sinto na boca quando abro a porta do meu quarto para o jardim de manhã e piso na grama. E como é colocar a minha família na cama de noite, um por um, do marido aos gatos. E o que sinto quando passo pela gaiola da Meg (minha calopsita) e ela abaixa a cabeça pra ganhar carinho.
Todo mundo saberia o que eu sinto sem ter que me perguntar. E ao saber, seria tão claro que não restaria dúvidas.
Eu poderia mostrar o que se passa dentro de mim quando me apaixono, quando me entristeço, quando me sinto de fora, quando me entrego demais, quando fico triste....e nunca mais ficaria triste porque as pessoas saberiam o que me entristece.
Eu mostraria por fim como eu sou e talvez, finalmente, eu pudesse ser ouvida em claro e bom som. Ninguém se enganaria comigo, ninguém me enganaria, ninguém interpretaria errado uma palavra minha...Aliás...eu não teria que explicar mais nada, logo não assustaria com as minhas explicações.
Talvez, se inventassem a minha ressonância dos sonhos, eu escrevesse mais.
Porque seria fácil dizer "eu choro falando sobre a infância quando a família se reúne", porque a fatia cerebral desse momento já teria sido vista e todo mundo saberia que esse é um momento feliz.
Talvez eu não esquecesse as sensações menores, mais corriqueiras, mais prazeirosas. Aquelas sobre as quais eu não escrevo...que não são fotografáveis.
Enquanto isso, vou fotografando e escrevendo...e rezando para que o meu cérebro seja poupado, seja conservado, que não deixe escapar as coisas que eu amo. Que não caia no vazio. Que não apague a única coisa que vale a pena guardar: As minhas sensações.
Acabei de entrar no blog da Rita. Ela comentou aqui hoje, e eu fui lá dar uma olhada. Comentando no blog dela, uma idéia me passou:
Eu queria que inventassem uma ressonância magnética que mostrasse o cérebro - o meu pelo menos - da forma que ele funciona.
Não! eu não estou falando em ciência, não quero saber de neurônios e química, e ligações fantásticas entre o bem estar e a endorfina...nem nada que interesse a um neurologista.
Eu quero poder mostrar o que eu sinto!
A Rita diz que algumas coisas ficam registradas na lembrança, outras são impossíveis de lembrar porque o tempo apaga...e que ela registra o que pensa e o que sente, enquanto o tempo permitir que ela escreva.
Nossa...é exatamente esse o jeito de guardar o tempo!
Minha paixão junta duas coisas: escrever e fotografar.
É um jeito de registrar o que eu vejo e o que eu sinto/penso.
Mas nem tudo o que vejo posso registrar. Se a super-ressonância-mega-plus-de-mercedes fosse criada, eu poderia guardar, dividir, mostrar, sem interpretações errôneas, o que vejo e o que sinto. As coisas pequenas que não interessam à ciência, mas que eu não quero esquecer.
Poderia mostrar porque gosto quando estou dirigindo na Marginal Pinheiros no fim da tarde em direção à minha casa e o céu está vermelho, verde, azul, e o sol é uma bola enorme que ocupa 3 pistas da Castelo e me tira o fôlego. E como é olhar para as núvens com meus óculos escuros quando o som do carro está alto tocando Shiver do Coldplay.
Ficaria registrado o olhar:
O olhar do Pedro que é distante e profundo. O Olhar do Du Lobo quando me dá oi. O olhar da Natasha quando morre de rir com as coisas que eu digo. O olhar do gato preto que ronda a minha casa me pedindo pra entrar. O olhar do Diogo quando vem me abraçar. O olhar do menino bonito pra câmera na internet. O olhar do Claudio quando me acordou pra contar que entrou no short list em Cannes. O olhar da menina que vende bala no sinal quando eu brinco com ela. O olhar da caixa da padaria quando me vê, porque eu digo que ela está mais bonita. O olhar daquela pessoa que ficou pra trás e que sabia me olhar como nunca mais ninguém me olhou. Os olhos molhados de até nunca mais....Ficaria guardado o que eu sinto quando alguém que eu gosto me olha nos olhos e sorri.
A sensação de uma coca light gelada. O gosto do meu suor depois da corrida. O prazer da água. O prazer de me ouvir quando eu canto no banheiro. Eu poderia explicar o cheiro de Los Angeles. O gosto que eu sinto na boca quando abro a porta do meu quarto para o jardim de manhã e piso na grama. E como é colocar a minha família na cama de noite, um por um, do marido aos gatos. E o que sinto quando passo pela gaiola da Meg (minha calopsita) e ela abaixa a cabeça pra ganhar carinho.
Todo mundo saberia o que eu sinto sem ter que me perguntar. E ao saber, seria tão claro que não restaria dúvidas.
Eu poderia mostrar o que se passa dentro de mim quando me apaixono, quando me entristeço, quando me sinto de fora, quando me entrego demais, quando fico triste....e nunca mais ficaria triste porque as pessoas saberiam o que me entristece.
Eu mostraria por fim como eu sou e talvez, finalmente, eu pudesse ser ouvida em claro e bom som. Ninguém se enganaria comigo, ninguém me enganaria, ninguém interpretaria errado uma palavra minha...Aliás...eu não teria que explicar mais nada, logo não assustaria com as minhas explicações.
Talvez, se inventassem a minha ressonância dos sonhos, eu escrevesse mais.
Porque seria fácil dizer "eu choro falando sobre a infância quando a família se reúne", porque a fatia cerebral desse momento já teria sido vista e todo mundo saberia que esse é um momento feliz.
Talvez eu não esquecesse as sensações menores, mais corriqueiras, mais prazeirosas. Aquelas sobre as quais eu não escrevo...que não são fotografáveis.
Enquanto isso, vou fotografando e escrevendo...e rezando para que o meu cérebro seja poupado, seja conservado, que não deixe escapar as coisas que eu amo. Que não caia no vazio. Que não apague a única coisa que vale a pena guardar: As minhas sensações.