quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Palavras

15 Setembro 2005Eu não durmo mais. Que aflição. Que aflição.
Não vejo mais o amanhecer, com cheiro de bom dia, quando as nuvens são ainda uma névoa fresca e a cor do céu é novidade.
Não vejo mais o amanhecer. Vejo o pôr da noite.
A manhã insiste em chegar quando estou me arrumando para dormir. Não estou atrasada, ela que chegou cedo.
A noite é engraçada, me diverte e me brilha os olhos de criancice e ansiedade. É a hora do riso. Hora das idéias. Hora que as histórias chegam, que as imagens surgem, que as alegrias nascem, que as palavras explodem.
Ah...as palavras! Essas têm sido minhas companheiras ultimamente. Me roubaram de tudo. Me roubaram de todos. Só não me roubaram dos amigos que usam palavras. Só desses também. Fui roubada! Estou roubada! E foram elas!
Ladras palavras.
Livros, livros, livros, palavras e eu. Em que momento resolvi tirar o atraso de uma vida de preguiça? Sinto-me com 18, 20, 25? Há! Aos dezoito li mais do que uma existência. É isso então. Encontrei a menina loira usando jeans e coragem, com tempo pra tudo, e ela me força a ler. Dentro do meu casaco verde-langanho, na madrugada gelada, estamos eu, ela, Ella, Elanor e todas as outras, caçando palavras. Colecionando períodos. Eternizando pensamentos. No dia cinza e gelado, vivemos pelos sofás. Um livro no carro, um na cabeceira, outro no banheiro e esse aqui do meu lado que revela tudo o que eu queria saber. Corre Mercedes, corre! Tira o atraso de uma vida! As palavras voltaram. A noite está com você! À noite, está com você. À noite estar com você...Mágicas palavras.
Grande Houdini me ronda mostrando essa mágica diária-noturnamente. Grande Bandini me visita desvendando o mistério da sintaxe que eu gosto. As palavras me encantam e seqüestram. Fui roubada! Fui roubada!
As palavras são putas encantadas. Andam pelas bocas e pelos becos. Criam contos de fadas ou eróticos. Passeiam pelo coração da moça e da velha trazendo os mesmos desejos. Visitam o padre e o bêbado levando os mesmos pecados. Com seus peitos desnudos e bocas vermelhas, as palavras beijam quem já não sonhava. Quem adormecia. Quem já não esperava. Por isso os poetas vão para o inferno. Malditas palavras.
Irei eu para o inferno só por não ver o dia amanhecer, mas sim a noite se pôr no meu horizonte de vocábulos? Irei eu para o inferno só por ser a amante devotada dos períodos e sorrisos? Irei. Irei para o inferno se puder levar comigo meus pensamentos noturnos. Assino este contrato. Firmo minhas palavras. Irei com elas ao inferno!
Dramáticas Palavras.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito louco isso de "o pôr da lua". Quase tudo é questão de perspectiva.
Quanto a ir para o inferno, nem se preocupe Mê: certeza que você vai.

Rodrigo Batista 15.09.2005

Anônimo disse...

lindo... e todos vamos pro inferno!! c eh q o inferno existe...claro!!
hehehe
beijinhos

Marilia Lopes 15.09.2005

Anônimo disse...

Como diria o bukowski no prefácio do Pergunte ao pó do Fante... quando a amante dele chamou ele de filho da puta pq pegou ele com outra ele disse. "Eu não sou filho da puta, porra! Meu nome é Arturo Bandini!" isso é seu texto... puro bandini!

Tito Iubel 17.09.2005

Anônimo disse...

"Quando a cor do céu é novidade"
Gostei a beça disso !


Rodrigo Gameiro 19.09.2005

Anônimo disse...

Entrei em seu blog achei fera pra pacas,qualquer dia desses irei terminar meu blog aí vai me conhecer, sou de curitiba paraná região cic,não sei se conhece mais aqui é legal.se quiser manter contato mande um e-mal blz..beijos

Nil 17.10.2005