8 Outubro 2005
Ah...Estou revoltada!
Não vou escrever nada que vocês entendam. Mas eu preciso escrever sim!
Preciso gritar, gritar, gritar, gritar!
Meu Deus! Quem é essa louca? Quem é Mercedes? Quem é essa desvairada? Entertainer no gigantesco palco, onde todos assistem e aplaudem suspirando: "Ah...como eu queria ser assim..." enquanto eu corro pra cochia e troco de roupa para encarnar um novo personagem que vai se atirar de mais um abismo para deleite de todos?
Meu amigo Derek diria: Jump off a cliff, Mercy!
Yeah, yeah...aqui vou eu de novo...Pular deste penhasco cansativo em busca de sei lá o que.
Chego lá em baixo e só encontro a mim mesma. Sempre. Sentadinha, olhando com cara de tédio e dizendo:
- Oi. Você de novo? Senta aí e toma um café comigo. Então? Achou?
- Não, droga. Não achei. Acho que vou parar de procurar. Os arranhões da queda agora aparecem. Antigamente eu não me arranhava. Agora acho que já não resisto tanto. Talvez esteja cansada. Tem esparadrapo?
- Escrevi uma música, quer ouvir?
- Não.
- "You should be my dream, My relief and my shelter!"
- Para. Não quero ouvir suas músicas idiotas.
- "Your words? Where are all your words? Did you swallow them not to give me? Did you throw them up after drinking?"
- Eca?quem vomitou as palavras?
- Você sabe! Pois é...palavras jogadas fora. De novo. Senta aí. Toma um expresso.
- Não me fala em expresso! Não quero café nenhum. To arranhada.
- Relaxa. Você sabe como tudo acaba. Não sei que drama é esse agora.
- Cansei. São páginas e páginas que eu jogo fora. São dias e dias e dias da mais doce ilusão, versus a consciência de que tudo acaba num livro medíocre. Nem Sidney Sheldon e Danielle Steel (eca!) seriam capazes de uma historinha tão meia boca!
- Existe a história maior. Porque você não se concentra nela?
- Ah...porque...sei lá porque! Porque ela está resolvida, sem desafios, ganha, vencida.
- Mas não é isso que você procura? A história que acaba bem, se resolve, é vencida?
- Porque você não cala a boca e toma um café?
- Vai voltar lá pra cima? Eu te espero aqui. Daqui a pouco você volta. Toma um café.
- Não volto não. Não quero voltar. Você é entediante e este penhasco é velho demais.
- Porque não volta pelo elevador da próxima vez?
- Nem sabia que existia um.
- Hm...Senta aí, Mercedes. Toma um café.
- Ta. Me dá. Mas sem chantilly.
- Essas histórias são todas iguais. Você, dialogando com você mesma, escolhendo as melhores palavras para escutar, porque você precisa. Você camufla tudo inventando a história que você quer viver. Quando o cenário está pronto, lá vem você...Voando penhasco abaixo. Flutuando num conto de faz de conta que você vive sozinha. Mas você sabe o que vai encontrar.
- Claro que sei. Quando acordo do tombo estou sozinha com você. Mais um café.
- E o que você vai fazer agora? Vai guardar as palavras?
- Vou torná-las viáveis.
- Há! Chega Mercedes!
- Não é possível que não seja viável. Não é possível que tenha funcionado uma vez só.
- Mas você se lembra o esforço que você fez para funcionar? Lembra de quantas vezes esteve aqui sangrando inteira durante aquele período? Lembra como acabou?
- Lembro. Eu sei! Mas valeu a pena demais. Eu estava esfolada e feliz. Meus olhos brilhavam, lembra?
- Lembro. Clube da luta. Quanto mais você se machucava, mais seus olhos brilhavam.
- Não exagera!
- Não é exagero. Você tinha que se ver. O que vai fazer agora então?
- Vou subir lá. Mas não volto mais aqui.
- Guardar as palavras?
- Talvez. Se eu conseguir vou jogar fora meu istoriquétier.
- Isso não!
- Isso sim. É o único jeito de parar de pular aqui. Cada vez que abro o istoriquétier tenho vontade de me atirar. Faço de conta que não é um sonho e me jogo como se fosse voar para sempre. Não quero mais.
- Pensa melhor, Mercedes. Dentro do istoriquétier pode ter ainda alguma coisa pra você.
- O que? Mais um café?
Lá se foi Mercedes, penhasco acima. Pela última vez?
- Espero.
Bom fim de semana. Tomara que você tenha conseguido ler até aqui.
Beijos
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4 comentários:
Eu vivo entre a beirada do penhasco e o chão no seu fundo. Pelo menos por enquanto.
Rodrigo Batista 08.10.2005
Meeeeeeee...eu sou NORMAL demais!!!!Que ódio disso!!!hahahahahahahahaha
Não adianta...isso é voce!!!
Só espero que encontre o que procura!!!
Beijos!!!
Marilia Lopes 08.10.2005
Jamais espere que seja pela última vez... o que faz a vida senão milheres de penhascos dos quais pulamos todos os dias em busca de razões, de emoções, de sentimentos? Ahhhhhhhhhhhhh tia... não há vida sem os penhascos (ou até há) mas que graça tem viver sem emoção?? O que nos leva aos penhascos é essa necessidade de buscar o desconhecido, uma nova aventura... This is life!
bjos
Anne 08.10.2006
uia! qdo a gente aprende a pular... nunca mais consegue ficar sentado na borda do precipício... a resposta é sempre a mesma... "pula logo! que se foda!"
rá!
Tito Iubel 09.10.2006
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