18 Agosto 2005
O TPM resolveu entrevistar Mercedes Gameiro no assunto mais complicado da sua existência. Aquele que ela cala...aquele que ela pensa sozinha, indignada, mas não consegue entender.
Antes de mais nada, gostaria que todos entendessem que:
1. Ela jamais prometeu ser normal
2. Ela pensa demais, e isso não faz bem.
3. O que ela pensa é só dela e não deve ser julgado. Até porque ela não vai mudar seus pensamento.
4. Ela tenta ser legal.
TPM: Mercedes, você tem um problema sério guardado aí dentro que hoje está querendo explodir. Pode nos dizer o que é?
Mercedes: A Faixa de Gaza.
TPM: Você é judia?
Mercedes: Não. Meus pais são católicos.
TPM: É descendente de Palestinos então?
Mercedes: Nada. Não existe palestino com essa pele branca de polaco da nhãnha que eu tenho.
TPM: Qual é o problema então? Ou...O que você tem com isso?
Mercedes: Nunca aceitei essa coisa de terra prometida.
TPM: Por que?
Mercedes: Você já leu a Bíblia?
TPM: Mais o menos. Mas antes me fala: você acredita em Deus?
Mercedes: Há divergências.
TPM: Como assim?
Mercedes: Eu rezo. Eu creio em alguma coisa. Acho que as palavras têm poder. O que pode responder essa sua pergunta é a minha outra pergunta: você já leu a Bíblia?
TPM: mas isso não é uma resposta.
Mercedes: Mas foi pra mim.
Quando a guerra do golfo estourou, eu resolvi ler o apocalipse e fiquei chocada com as imagens descritas ali. Não as imagens depois de interpretadas por algum maluco. Mas as imagens que um pescador viu e descreveu, dentro do conhecimento que tinha, há 2.000 anos. Então resolvi ler o livrinho desde o início. Desde o Gênesis, e foi aí que choquei de uma vez.
TPM: porque?
Mercedes: Porque o livro é muito claro. Não há milhões de maneiras de interpretá-lo: Alguém chegou na terra, onde já existiam Deuses que também vinham do céu, pegou o povo que estava mais oprimido e oprimiu mais. Dizendo que ia salvá-los, prometeu uma terra para viverem. Enrolou os coitados por 40 anos no deserto, exigindo oferendas, comida e alguns de seus melhores bezerros, matando-os aos milhares por desobediência ou qualquer tentativa de revolta. E quando pressionado desocupou parte da Palestina e deu a eles de presente.
TPM: Como assim?
Mercedes: Está lá. Ele avisou a Moisés (o primeiro diplomata da história do mundo) que aquela terra era ocupada por um povo forte, quase gigante. Que não tentassem entrar lá na sua ausência. Deu uma viajadinha, e o povo resolveu fazer-lhe uma surpresa: invadiu! Tomaram um pau astronômico! Quando Deus voltou, deu uma bronca em Moisés, bombardeou parte do acampamento com SERPENTES DE FOGO (aff! Pequenos mísseis?), depois a Glória de Deus (BAITA AVIÃO) levantou vôo, foi lá na Palestina, dizimou o povo belicoso que lá vivia, e dirigiu os Hebreus até a Terra Prometida.
Ou seja: prometeu uma terra que tinha dono! Matou todo mundo que morava lá e entregou aos Judeus, que não têm a menor culpa nisso tudo!
TPM: Isto está escrito lá?
Mercedes: De uma forma mais prosaica. Mas está.
TPM: E a sua revolta qual é?
Mercedes: A falta de responsabilidade dessa criatura. São milênios de guerras e brigas. Os Palestinos querem o que é deles. Os Judeus querem uma terra pra viver. Isso foi meio resolvido com o Estado de Israel. Mas os Judeus da Faixa de Gaza não entendem porque devem deixar a terra que foi dada a eles por Deus! E é mais do que hora de entregar.
Então ninguém tem culpa nessa história. O cara que provocou tudo isso levantou vôo em seguida e nunca mais apareceu. Os Hebreus continuam esperando que a Nova Jerusalém desça do céu para que esse Deus reine na terra e devolva o que é deles. Mas isso não vai acontecer sem guerra e mortes, nem se Deus voltar.
Mas ele saiu pra dar uma voltinha e não voltou até hoje!
TPM: Meu Deus!
Mercedes: Esse deus?
TPM: Então você não acredita nesse Deus?
Mercedes: Nesse não!
TPM: E tem outro?
Mercedes: Talvez. Acho que a história do mundo foi modificada pelos homens. Acho que não é necessário que exista um Deus para explicar o que a gente não entende. Acho isso primitivo. Os primitivos acreditavam num deus sol, deusa lua, deus do fogo, deus de tudo o que não podiam entender. Estamos em 2005, a ciência explica quase tudo, menos a necessidade do misticismo. A natureza é poderosa e o cérebro humano também. Anos mais tarde veio outra pessoa aqui falar sobre isso, mas deturparam tudo o que ele disse.
TPM: E o que é a fé então?
Mercedes: Na minha opinião, que não é NADA no frigir dos ovos, a fé é uma vontade enorme de acreditar. Uma força enorme tentando fazer a vida dar certo e valer a pena.
TPM: Mas então, a fé é fé em que?
Mercedes: Cada um tem a fé que tem. Mas deveríamos ter fé em nós mesmos, e na vida.
As energias são um assunto cientifico. Elas regem o universo e agem sobre nós. É meio básico, eu acho...Você dá e recebe...faz o bem o bem volta, faz o mal ele volta, escolhe como vai viver. E as outras coisas da vida, sei lá porque acontecem. Existem forças na natureza e no cérebro humano. Juntas elas movem montanhas.
Mas não acho que haja alguém lá em cima controlando, cuidando e anotando nossos erros para que sejamos punidos.
TPM: Complicado...Mas e a sua revolta?
Mercedes: A minha revolta é com a Faixa de Gaza. Aquelas pessoas com uma fé enorme num deus que lhes deu essas terras, não querem sair. As outras, com todo o direito, querem sua terra de volta. Famílias sofrendo dos dois lados. Essa coisa dramática, terrorismo, guerra, tudo por causa das religiões, por causa dessa fé em algo inacessível...e fé nenhuma no ser humano. Tem espaço para todos, basta aceitar. Mas todos querem a posse de alguma coisa. É só isso.
TPM: E assim vive Mercedes Gameiro, senhoras e senhores. Pasmem. A mesma mulher cor-de-rosinha que vive apaixonada pelas pessoas, pelas palavras e pela vida, sofre escondido por entender coisas que os outros não entendem. Ou, em sua loucura, acha que vê o que os outros não vêm. E sofre por pena dos seres humanos que olham para cima a espera do que não virá, sem saber que deveriam olhar em volta e usar o que lhe foi dado: A vida e o poder de dividí-la e amá-la.
Em minha conversa com ela, ela disse que seu interesse pelas religiões, pelas escrituras, manuscritos do mar morto, evangelhos apócrifos etc, começou com essa curiosidade sobre o fim dos tempos. Hoje ela não acredita que haverá um fim. Não acredita na igreja católica. Não acredita em quase nada além da força da oração, da vontade e do amor pela vida e pelo próximo. E mais do que tudo, não acredita que seja possível ver a humanidade vivendo em paz. Porque a natureza humana não permite. Porque o povo que foi colocado na terra não perde o gene de caçador, de conquistador, de predador.
Mas ela gostaria sim de acreditar...
Doeria menos se pudesse não ligar a televisão e ver pobres humanos lutando pelo que não faz sentido, explodindo inocentes, derrubando prédios, guerreando por razões que não questionaram. Sendo comandados. Esquecendo que aquele que vai morrer é um seu igual.
Seria mais fácil se o gene do predador fosse trocado pelo gene do que divide, adiciona, multiplica.
Mas para isso, seria preciso um novo big bang.
O TPM resolveu entrevistar Mercedes Gameiro no assunto mais complicado da sua existência. Aquele que ela cala...aquele que ela pensa sozinha, indignada, mas não consegue entender.
Antes de mais nada, gostaria que todos entendessem que:
1. Ela jamais prometeu ser normal
2. Ela pensa demais, e isso não faz bem.
3. O que ela pensa é só dela e não deve ser julgado. Até porque ela não vai mudar seus pensamento.
4. Ela tenta ser legal.
TPM: Mercedes, você tem um problema sério guardado aí dentro que hoje está querendo explodir. Pode nos dizer o que é?
Mercedes: A Faixa de Gaza.
TPM: Você é judia?
Mercedes: Não. Meus pais são católicos.
TPM: É descendente de Palestinos então?
Mercedes: Nada. Não existe palestino com essa pele branca de polaco da nhãnha que eu tenho.
TPM: Qual é o problema então? Ou...O que você tem com isso?
Mercedes: Nunca aceitei essa coisa de terra prometida.
TPM: Por que?
Mercedes: Você já leu a Bíblia?
TPM: Mais o menos. Mas antes me fala: você acredita em Deus?
Mercedes: Há divergências.
TPM: Como assim?
Mercedes: Eu rezo. Eu creio em alguma coisa. Acho que as palavras têm poder. O que pode responder essa sua pergunta é a minha outra pergunta: você já leu a Bíblia?
TPM: mas isso não é uma resposta.
Mercedes: Mas foi pra mim.
Quando a guerra do golfo estourou, eu resolvi ler o apocalipse e fiquei chocada com as imagens descritas ali. Não as imagens depois de interpretadas por algum maluco. Mas as imagens que um pescador viu e descreveu, dentro do conhecimento que tinha, há 2.000 anos. Então resolvi ler o livrinho desde o início. Desde o Gênesis, e foi aí que choquei de uma vez.
TPM: porque?
Mercedes: Porque o livro é muito claro. Não há milhões de maneiras de interpretá-lo: Alguém chegou na terra, onde já existiam Deuses que também vinham do céu, pegou o povo que estava mais oprimido e oprimiu mais. Dizendo que ia salvá-los, prometeu uma terra para viverem. Enrolou os coitados por 40 anos no deserto, exigindo oferendas, comida e alguns de seus melhores bezerros, matando-os aos milhares por desobediência ou qualquer tentativa de revolta. E quando pressionado desocupou parte da Palestina e deu a eles de presente.
TPM: Como assim?
Mercedes: Está lá. Ele avisou a Moisés (o primeiro diplomata da história do mundo) que aquela terra era ocupada por um povo forte, quase gigante. Que não tentassem entrar lá na sua ausência. Deu uma viajadinha, e o povo resolveu fazer-lhe uma surpresa: invadiu! Tomaram um pau astronômico! Quando Deus voltou, deu uma bronca em Moisés, bombardeou parte do acampamento com SERPENTES DE FOGO (aff! Pequenos mísseis?), depois a Glória de Deus (BAITA AVIÃO) levantou vôo, foi lá na Palestina, dizimou o povo belicoso que lá vivia, e dirigiu os Hebreus até a Terra Prometida.
Ou seja: prometeu uma terra que tinha dono! Matou todo mundo que morava lá e entregou aos Judeus, que não têm a menor culpa nisso tudo!
TPM: Isto está escrito lá?
Mercedes: De uma forma mais prosaica. Mas está.
TPM: E a sua revolta qual é?
Mercedes: A falta de responsabilidade dessa criatura. São milênios de guerras e brigas. Os Palestinos querem o que é deles. Os Judeus querem uma terra pra viver. Isso foi meio resolvido com o Estado de Israel. Mas os Judeus da Faixa de Gaza não entendem porque devem deixar a terra que foi dada a eles por Deus! E é mais do que hora de entregar.
Então ninguém tem culpa nessa história. O cara que provocou tudo isso levantou vôo em seguida e nunca mais apareceu. Os Hebreus continuam esperando que a Nova Jerusalém desça do céu para que esse Deus reine na terra e devolva o que é deles. Mas isso não vai acontecer sem guerra e mortes, nem se Deus voltar.
Mas ele saiu pra dar uma voltinha e não voltou até hoje!
TPM: Meu Deus!
Mercedes: Esse deus?
TPM: Então você não acredita nesse Deus?
Mercedes: Nesse não!
TPM: E tem outro?
Mercedes: Talvez. Acho que a história do mundo foi modificada pelos homens. Acho que não é necessário que exista um Deus para explicar o que a gente não entende. Acho isso primitivo. Os primitivos acreditavam num deus sol, deusa lua, deus do fogo, deus de tudo o que não podiam entender. Estamos em 2005, a ciência explica quase tudo, menos a necessidade do misticismo. A natureza é poderosa e o cérebro humano também. Anos mais tarde veio outra pessoa aqui falar sobre isso, mas deturparam tudo o que ele disse.
TPM: E o que é a fé então?
Mercedes: Na minha opinião, que não é NADA no frigir dos ovos, a fé é uma vontade enorme de acreditar. Uma força enorme tentando fazer a vida dar certo e valer a pena.
TPM: Mas então, a fé é fé em que?
Mercedes: Cada um tem a fé que tem. Mas deveríamos ter fé em nós mesmos, e na vida.
As energias são um assunto cientifico. Elas regem o universo e agem sobre nós. É meio básico, eu acho...Você dá e recebe...faz o bem o bem volta, faz o mal ele volta, escolhe como vai viver. E as outras coisas da vida, sei lá porque acontecem. Existem forças na natureza e no cérebro humano. Juntas elas movem montanhas.
Mas não acho que haja alguém lá em cima controlando, cuidando e anotando nossos erros para que sejamos punidos.
TPM: Complicado...Mas e a sua revolta?
Mercedes: A minha revolta é com a Faixa de Gaza. Aquelas pessoas com uma fé enorme num deus que lhes deu essas terras, não querem sair. As outras, com todo o direito, querem sua terra de volta. Famílias sofrendo dos dois lados. Essa coisa dramática, terrorismo, guerra, tudo por causa das religiões, por causa dessa fé em algo inacessível...e fé nenhuma no ser humano. Tem espaço para todos, basta aceitar. Mas todos querem a posse de alguma coisa. É só isso.
TPM: E assim vive Mercedes Gameiro, senhoras e senhores. Pasmem. A mesma mulher cor-de-rosinha que vive apaixonada pelas pessoas, pelas palavras e pela vida, sofre escondido por entender coisas que os outros não entendem. Ou, em sua loucura, acha que vê o que os outros não vêm. E sofre por pena dos seres humanos que olham para cima a espera do que não virá, sem saber que deveriam olhar em volta e usar o que lhe foi dado: A vida e o poder de dividí-la e amá-la.
Em minha conversa com ela, ela disse que seu interesse pelas religiões, pelas escrituras, manuscritos do mar morto, evangelhos apócrifos etc, começou com essa curiosidade sobre o fim dos tempos. Hoje ela não acredita que haverá um fim. Não acredita na igreja católica. Não acredita em quase nada além da força da oração, da vontade e do amor pela vida e pelo próximo. E mais do que tudo, não acredita que seja possível ver a humanidade vivendo em paz. Porque a natureza humana não permite. Porque o povo que foi colocado na terra não perde o gene de caçador, de conquistador, de predador.
Mas ela gostaria sim de acreditar...
Doeria menos se pudesse não ligar a televisão e ver pobres humanos lutando pelo que não faz sentido, explodindo inocentes, derrubando prédios, guerreando por razões que não questionaram. Sendo comandados. Esquecendo que aquele que vai morrer é um seu igual.
Seria mais fácil se o gene do predador fosse trocado pelo gene do que divide, adiciona, multiplica.
Mas para isso, seria preciso um novo big bang.
9 comentários:
Muito bem!!!
Esqueceu de dizer que a religião foi criada para controlar o povo, como os 10 mandamentos e os 7 pecados...
Mas isso é outra historia.
Mas sabe que vai criar uma briga, nao sabe?
Bem, ja é hora de enxergarem.
Eu descobri aos 15.
beijos
Diogo 18.08.2005
WoW!
fé pela fé!
Nietzsche tá orgulhoso de vc!
Tito Iubel 18.08
Eu simplesmente A-D-O-R-E-I...
Lívia 18.08.2005
Sem dúvidas, indescritível... Temos algo em comum... adoro estudar "religião" também... mas sem as amarras da igreja... a fé pela sua própria força de mudar a realidade. Adoreeeeeeeeei! Bjos
Anne 18.08.2005
Não esquenta se te crucificarem. No terceiro dia você volta, certeza.
Matador, de tão exato!
Rodrigo Batista 18.08.2005
Religião é até legal, desde que não cegue. Sincretismo religioso é o máximo e lá ele faz falta. Tinhamos que trazer o pessoal da faixa de gaza para umas férias aqui no Brasil. Eles voltariam numa boa ! !
Adorei o texto. É impressionante como a repórter tem uma sensibilidade que consegue extrair o que quer da entrevistada. E a entrevistada ao mesmo tempo consegue transformar cada pergunta em algo urgente a ser dito ! Uma excelente dupla !!
Rodrigo Gameiro 18.08.2005
HAHAHAHAHAH! Rodrigo! Você é hilário!
Há uma certa intimidade entre a entrevistada e a entrevistadora. Essas duas se conhecem de longa data! (mais longa do que eu gostaria, inclusive)
Alguns psiquiatras chamam o caso dessas duas de ESQUIZOFRENIA!
Quanto à originalidade de ser Rodrigo, o outro Rodrigo é Rodrigo Batista. Vou pedir pra ele manter o Bat pra gente não confundir.
Beijos Mercedes 19.08.2005
O que dizer...pois é!o que dizer de tudo isso...penso exatamente como a entrevistada, está no instinto humano: PODER...PODER... E PODER. Existirá alguém plenamente feliz? Nem com todos os Deuses! os próprios brigavam entre si!!!
Ari 19.08.2005
Admiração, seria a palavra correta pra descrever minha posição atual quanto ao seu blog, qualidade dos textos, opniões e discernimento dos fatos, e você.
To numa faze quase que sagrada, pois depois de muito tempo estou começando a obter algumas respostas para as perguntas que me assolam há alguns anos, o seu blog vem sendo em alguns momentos o ponto de partida, outros o de ligação e outros o de conclusão...
Em especial este post tem muito de mim, talvez uma certa indguinaçção de todos nós.
Foi um ponto de partida... tive de ler mais de uma vezes pra entender e procurar alguns significados ou acontecimentos (1985 sou novinho ainda!), ou a eles dar, por estarmos sendo bombardeados, apenas dar uma atenção especial. Não sei se voce pensa assim, mais pra mim, num o objetivo o mais importante é enquanto voce "segue sempre em sua direção" não esquecer de olhar para os lados e aprender nesse caminho o maximo possivel.
Valews... por mais essa, Beijos
Thi)
http://diariofalante.blog.aol.com.br Thiagota0 19.08.2005
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