6 Agosto 2006
Ela parou o carro e disse: Entra.
Ele entrou como se fosse normal ela aparecer na faculdade assim, sem ligar. Deu um beijo, ligou o som, perguntou se ela queria um halls.
Ela disse não e sorriu.
Ele: Aonde a gente vai?
Ela: Não sei...Acho que quero dirigir.
Ele: Porque você não me avisou que vinha? Eu podia ter saído mais cedo.
Ela: Podia...Pra não estar aqui quando eu chegar?
Ele: Nada a ver. Pra ficar mais tempo.
Ela: Mas temos tempo...Um monte.
Ele: Não muito. Tenho um aniversário que eu tenho que ir.
Ela aumentou o som num claríssimo sinal de que não queria conversar, acendeu um cigarro.
Ele: Não fuma....
Ela: desculpa. Hoje eu preciso.
E se foram: um desavisado e uma desvairada.
Ela sabia que o que estava fazendo estava pra lá de errado, mas dessa vez ela não ligava a mínima. Estava decidida a resolver essa história, já engasgada na garganta a tempo demais.
Enquanto a música toca alta e ele mexe nos 55 CDs no porta-luvas, ela o vê ao seu lado, menino distraído... Ele nem percebe seus pensamentos, não enxerga o que ela sente, não entende o que ela pode sentir por um cara como ele. Na verdade é ela quem não entende...São diferenças demais! A experiência de vida dela contra a inocência dele. A cultura dela contra a simplicidade dos pensamentos dele. O coração dela já tão cheio de história contra o dele, papel em branco, pedindo para ser preenchido...Mas é como se já fosse parte dela, desde sempre. Ele diz que às vezes até queria...Ela fica triste porque ele não quer. Ela tenta fazer ciúmes...Ele diz que não sente. Ela só falta pedir: Hey! Diz que me adora! Diz que me odeia! Sente alguma coisa! ...Ele adora a presença dela, mas não entende...Ela não entende. Diz que consegue saber uma história lendo a primeira linha, mas não dessa vez. Só tem a impressão de que ambos estão perdendo algo muito bom e bonito. Mas não tem controle dos acontecimentos. Ou não tinha até agora.
Eles chegam a uma casa afastada da cidade, na beira de um lago. Descem do carro. "Quem mora aqui?" "Nós." Ele sorri e sobe os degraus da varanda, vira-se olhando para o lago, respira fundo, feliz. "Que lindo!".
Ela abre a porta, larga a bolsa, liga o som: "And so it is...just like you said it would be..."
Anda até a cozinha, pergunta se ele quer vinho. Claro que quer.
"Essa casa me lembra As Pontes de Madison. Você viu?" Não...Claro que ele não viu. A história de uma mãe de família que se apaixona por um fotógrafo, passa quatro dias com ele numa casa, mas não pode ir embora quando ele pede...E nunca esquece esse amor, até morrer.
O dia passa gostoso. Conversas fáceis ficando cada vez mais fáceis por conta do vinho, risadas deliciosas e a visão quase mágica daquele menino às vezes, aquele homem às vezes, a luz fraca do sol se pondo no lago, o brilho no olhar de admiração, de contemplação...
"Quer comer alguma coisa?" "Não...tenho que ir embora."
"Liga e avisa que você não vai. Diz que o carro do seu amigo quebrou, você vai esperar o guincho com ele, não tem como ir pra casa. E já que perdeu a festa, vai sair com ele, dormir na casa dele, só volta pra casa depois de amanhã".
Ele achou graça e foi pegando o casaco.
E o que veio a seguir foi complicado:
Ela, sem um sorriso sequer, mostrou a ele que estava dizendo a verdade: ele não podia ir pra casa. A chave do carro escondida desde a chegada, uma discussão terrível. Ele nervoso pede a chave, ela não dá, ele fala alto, abre a bolsa dela procurando a chave, ela com raiva, ele agressivo tentando não perder a cabeça, ela descontrolada começa a chorar, diz que não agüenta mais a rejeição dele, que não consegue entender, ele bate a porta e exige a chave, ela diz pra ele ir embora a pé, ele pega o celular e diz que vai ligar pra um táxi, ela pega a chave do carro embaixo da almofada e atira nele, ele diz que vai embora sem ela, ela parte pra cima dele pra pegar a chave, ele reage segurando os braços dela com força, ela para...Cena de novela...Os dois se olham, ela chorando, ele indignado, ela abaixa a cabeça no peito dele, ele a abraça, levanta o rosto dela, eles se beijam...Ufa! Finalmente!
E se beijam até ela parar de chorar, ele enxuga as lágrimas dela, ela pede desculpas, diz que não vai prendê-lo mais, ele diz que não quer ir embora, eles se beijam novamente...Já está escuro na sala, um silêncio celestial: nem um pássaro lá fora, a música acabou, só o som das bocas se beijando...Só o som das lágrimas secando, só o som das roupas esquecidas pela sala, só o som da respiração deles...Do coração dele sendo preenchido...Do coração dela escrevendo pra ele uma bela história.
Dois dias e meio.
Dois dias e meio numa casa na beira do lago.
Almoços e jantares feitos a quatro mãos, ou quase isso, café na cama...Filmes debaixo do cobertor, muito vinho, muito riso, muito beijo, muito sexo, dormir abraçado, acordar abraçando, dormir beijando.
O tempo passou sem ser notado. O relógio, assistindo a tudo, não foi capaz de revelar a hora. Ninguém lembra da chave do carro. Ninguém lembra de argumentos pra evitar tudo isso. Ninguém entende o que os fez evitar tanto tempo.
No caminho de volta para a cidade, lá vão eles: São agora uma menina e um homem. Os olhos molhados, as mãos coladas, o silêncio.
Ele liga o som: "And so it is...just like you said it would be...life goes easy on me...most of the time..."
And so it is.
Ela parou o carro e disse: Entra.
Ele entrou como se fosse normal ela aparecer na faculdade assim, sem ligar. Deu um beijo, ligou o som, perguntou se ela queria um halls.
Ela disse não e sorriu.
Ele: Aonde a gente vai?
Ela: Não sei...Acho que quero dirigir.
Ele: Porque você não me avisou que vinha? Eu podia ter saído mais cedo.
Ela: Podia...Pra não estar aqui quando eu chegar?
Ele: Nada a ver. Pra ficar mais tempo.
Ela: Mas temos tempo...Um monte.
Ele: Não muito. Tenho um aniversário que eu tenho que ir.
Ela aumentou o som num claríssimo sinal de que não queria conversar, acendeu um cigarro.
Ele: Não fuma....
Ela: desculpa. Hoje eu preciso.
E se foram: um desavisado e uma desvairada.
Ela sabia que o que estava fazendo estava pra lá de errado, mas dessa vez ela não ligava a mínima. Estava decidida a resolver essa história, já engasgada na garganta a tempo demais.
Enquanto a música toca alta e ele mexe nos 55 CDs no porta-luvas, ela o vê ao seu lado, menino distraído... Ele nem percebe seus pensamentos, não enxerga o que ela sente, não entende o que ela pode sentir por um cara como ele. Na verdade é ela quem não entende...São diferenças demais! A experiência de vida dela contra a inocência dele. A cultura dela contra a simplicidade dos pensamentos dele. O coração dela já tão cheio de história contra o dele, papel em branco, pedindo para ser preenchido...Mas é como se já fosse parte dela, desde sempre. Ele diz que às vezes até queria...Ela fica triste porque ele não quer. Ela tenta fazer ciúmes...Ele diz que não sente. Ela só falta pedir: Hey! Diz que me adora! Diz que me odeia! Sente alguma coisa! ...Ele adora a presença dela, mas não entende...Ela não entende. Diz que consegue saber uma história lendo a primeira linha, mas não dessa vez. Só tem a impressão de que ambos estão perdendo algo muito bom e bonito. Mas não tem controle dos acontecimentos. Ou não tinha até agora.
Eles chegam a uma casa afastada da cidade, na beira de um lago. Descem do carro. "Quem mora aqui?" "Nós." Ele sorri e sobe os degraus da varanda, vira-se olhando para o lago, respira fundo, feliz. "Que lindo!".
Ela abre a porta, larga a bolsa, liga o som: "And so it is...just like you said it would be..."
Anda até a cozinha, pergunta se ele quer vinho. Claro que quer.
"Essa casa me lembra As Pontes de Madison. Você viu?" Não...Claro que ele não viu. A história de uma mãe de família que se apaixona por um fotógrafo, passa quatro dias com ele numa casa, mas não pode ir embora quando ele pede...E nunca esquece esse amor, até morrer.
O dia passa gostoso. Conversas fáceis ficando cada vez mais fáceis por conta do vinho, risadas deliciosas e a visão quase mágica daquele menino às vezes, aquele homem às vezes, a luz fraca do sol se pondo no lago, o brilho no olhar de admiração, de contemplação...
"Quer comer alguma coisa?" "Não...tenho que ir embora."
"Liga e avisa que você não vai. Diz que o carro do seu amigo quebrou, você vai esperar o guincho com ele, não tem como ir pra casa. E já que perdeu a festa, vai sair com ele, dormir na casa dele, só volta pra casa depois de amanhã".
Ele achou graça e foi pegando o casaco.
E o que veio a seguir foi complicado:
Ela, sem um sorriso sequer, mostrou a ele que estava dizendo a verdade: ele não podia ir pra casa. A chave do carro escondida desde a chegada, uma discussão terrível. Ele nervoso pede a chave, ela não dá, ele fala alto, abre a bolsa dela procurando a chave, ela com raiva, ele agressivo tentando não perder a cabeça, ela descontrolada começa a chorar, diz que não agüenta mais a rejeição dele, que não consegue entender, ele bate a porta e exige a chave, ela diz pra ele ir embora a pé, ele pega o celular e diz que vai ligar pra um táxi, ela pega a chave do carro embaixo da almofada e atira nele, ele diz que vai embora sem ela, ela parte pra cima dele pra pegar a chave, ele reage segurando os braços dela com força, ela para...Cena de novela...Os dois se olham, ela chorando, ele indignado, ela abaixa a cabeça no peito dele, ele a abraça, levanta o rosto dela, eles se beijam...Ufa! Finalmente!
E se beijam até ela parar de chorar, ele enxuga as lágrimas dela, ela pede desculpas, diz que não vai prendê-lo mais, ele diz que não quer ir embora, eles se beijam novamente...Já está escuro na sala, um silêncio celestial: nem um pássaro lá fora, a música acabou, só o som das bocas se beijando...Só o som das lágrimas secando, só o som das roupas esquecidas pela sala, só o som da respiração deles...Do coração dele sendo preenchido...Do coração dela escrevendo pra ele uma bela história.
Dois dias e meio.
Dois dias e meio numa casa na beira do lago.
Almoços e jantares feitos a quatro mãos, ou quase isso, café na cama...Filmes debaixo do cobertor, muito vinho, muito riso, muito beijo, muito sexo, dormir abraçado, acordar abraçando, dormir beijando.
O tempo passou sem ser notado. O relógio, assistindo a tudo, não foi capaz de revelar a hora. Ninguém lembra da chave do carro. Ninguém lembra de argumentos pra evitar tudo isso. Ninguém entende o que os fez evitar tanto tempo.
No caminho de volta para a cidade, lá vão eles: São agora uma menina e um homem. Os olhos molhados, as mãos coladas, o silêncio.
Ele liga o som: "And so it is...just like you said it would be...life goes easy on me...most of the time..."
And so it is.
10 comentários:
ler o que vc escreve é como ver um filme ótimo no cinema e no final...
vc quer ficar quieto um pouquinho... ou simplismente falar uma reticências pra qlqr um que pedir licença.. daí vc nao pode falar reticências... então vc fica em silêncio
...
Tito Iubel 06.-08.2005
Nossa!!!!!adorei!sempre me toca muito essas paixões devastadoras, onde o desejo sufoca a razão e a loucura é imperatriz! bjs no centro do seu coração
Ari 06.08.2005
LIndo, lindo, lindo!
Me acabei de chorar...
bjs Rafa Pedro 07.08.2005
Oi Mercedes, vc nao me conhece (sou cunhada do Mano Perin), hà algum tempo por curiosidade li um texto teu, pois o Mano falava tanto de ti que resolvi saber o q rolava (afinal ele te admira tanto e eu admiro ele pra caramba!)desde entao sempre q conecto dou uma olhadinha naquilo q vc escreve e gosto MUITO, MUITO MESMO!! Bom era isso, vc tem mais uma admiradora...
MÁRCIA Perin 08.08.2005
Pronto...agora não sou mais uma pessoa sem rosto!!!!hahahahaha...nunca sem braços!!!
Esse texto está lindo...senti arrepios quando li!!!
Mas...por que será que sempre penso no depois...como acaba?????????
Beijos!!!!
Marilia Lopes 10.08.2005
Unicórnios...
Bonito o que está nessas linhas.
Muito. Chris 11.08.2005
Uoooouuuu... sem palavras pra descrever o quanto gostei...
PS: Gostei da ideia }=D sequestro "de amoroso" já tinha até me esquecido dessa possibilidade pra ver se consigo resolver umas coisas minha. Já aconteceu comigo numa intencidade bem menor é claro mais foi muito legal!!!
Thiagota0 17.08.2005
Me,show de bola, adorei,parece que estou lá vivenciando junto com os personagens.bjs
graça zadra 22.10.2005
Maravilhoso, adoro esse tipo de texto! Parabéns!!! Inclusive me lembra um pouco a minha relação...rsrs.
Um abraço.
I can't take my eyes off of you
And so it is....
Just like you said it should be
AMEI.........vc é incrivel mesmo....vc escreve e a gente sente uma dor esquisita......que será isso heim????
bj
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